O Distrito Federal tem particularidades relativas à geração de emprego e renda, à especialização da produção e à arrecadação tributária que o caracterizam e o diferenciam das demais unidades da Federação. A grande participação da administração pública nos postos de trabalho e o menor peso da indústria e do agronegócio são alguns dos aspectos que atribuem ao DF uma forte dependência econômica do restante do país.
Buscando mapear e mensurar essa dependência, foi feita uma parceria entre a Secretaria de Fazenda do Distrito Federal e a CODEPLAN, para a produção de estudos que contribuam para a difusão do conhecimento sobre o perfil comercial do Distrito Federal e sobre a interdependência das atividades locais.
Para essa investigação, foram utilizados os registros das Notas Fiscais eletrônicas (NFe), sempre resguardando o sigilo fiscal. Sua importância para fins de pesquisa é identificar as operações realizadas pelas empresas locais, discriminando o setor, a localidade e os produtos comercializados, o que possibilita um diagnóstico preciso da dinâmica comercial do Distrito Federal.
Observando o ano de 2014, o último com dados disponíveis, o maior volume de transações foi realizado internamente: do total das vendas do DF, 65,6% foram destinados a empresas locais, e do total das compras, 45,9% vieram de empresas do próprio DF. Isso mostra a existência de um comércio interno que não deve ser negligenciado.
Quanto às transações com os outros estados, São Paulo foi a origem da maior parte das compras brasilienses, com 22,6% do total, seguido por Goiás (8,6%) e Minas Gerais (6,3%). O principal destino das vendas locais foi Goiás, com 9,8% do total, seguido por São Paulo (9,2%) e Minas Gerais (2,9%). A relação entre fluxo comercial, distância e tamanho (em termos de PIB) entre estados, quando explorada por um modelo gravitacional, indica que o fluxo comercial com parceiros de menor porte tem sido inferior ao possível, sugerindo um potencial para se intensificar o fluxo comercial com estados como Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul: parceiros no Consórcio Brasil Central.
Além das relações comerciais com outros estados, não se pode desconsiderar a estrutura de interdependência entre os setores da economia internamente ao DF. Algumas atividades estão inseridas em cadeias produtivas responsáveis por uma forte disseminação de outras atividades locais, enquanto outras não contam com uma rede tão interligada de encadeamentos. Para analisar essa estrutura, os registros da NFe foram utilizados numa adaptação da matriz insumo-produto para o Distrito Federal.
Numa espécie de ranking dos setores mais interligados produtivamente, destacam-se a Indústria de Transformação e a Construção Civil. A primeira, por mobilizar as atividades que a sucedem na sua cadeia produtiva, ou seja, repercutindo de forma mais intensa sobre os distribuidores de seus produtos, seus consumidores e serviços associados à indústria; e, a segunda, por mobilizar as atividades que a antecedem na sua cadeia produtiva, ou seja, fortemente relacionada aos fornecedores e aos produtores de insumos para a Construção.
Além disso, as Atividades Científicas e Técnicas apresentaram também grande articulação na sua relação com os demais setores, principalmente nas atividades de Artes, Cultura, Esporte e Recreação, legitimando a complementariedade entre produção cultural e técnico-científica. Aponta-se, assim, para uma rede de economia criativa consolidada e fortemente articulada no Distrito Federal.
Por último, cabe destacar o volume de informações que podem ser exploradas no trato das NFe. Protegidos pelo sigilo fiscal, estes registros solicitaram o desenvolvimento de uma metodologia específica que realiza agregações setoriais para a proteção da identidade do contribuinte. Seu resultado permitiu o primeiro passo de uma longa trajetória para um conhecimento acurado da dinâmica econômica local.
Lucio Rennó – cientista político, professor da Universidade de Brasília e presidente da CODEPLAN
Larissa Nocko – economista, da Diretoria de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas, da CODEPLAN.
Publicado no Correio Braziliense, em 09 de outubro de 2017.
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