Aldo Paviani
Professor emérito da UnB e diretor de Estudos Urbanos e Ambientais da CODEPLAN
O Brasil é um dos maiores países do mundo, em termos territoriais. Segundo estimativas do IBGE, possui mais de 206 milhões de habitantes. Há que se considerar, todavia, a singularidade de que esses milhões de habitantes não estão bem distribuídos no território nacional de mais de 8,5 milhões de km2. Historicamente, o povoamento se deu ao longo do litoral e raros são os estados que possuem população bem distribuída nos respectivos territórios. Ademais, as capitais estaduais, com algumas exceções, são litorâneas. As maiores capitais detêm proeminência populacional: São Paulo, mais de 12 milhões de habitantes; Rio mais de 6 milhões; Salvador e Brasília, aproximam-se dos 3 milhões.
Ao referir Brasília, deve-se considerar que, juntamente com Goiânia, representam o coroamento de ações para povoar o interior brasileiro. Saliente-se que a pouco estudada “marcha para o oeste”, na era Vargas, teve como base o princípio geopolítico de tomar posse das terras do interior goiano e mato-grossense, bem como dos espaços amazônicos, pois temia-se deixar mais da metade do território em aberto. Nos anos 1950, como ressonância de desejos seculares, o governo Juscelino Kubitschek, tomou a decisão de interiorizar a capital federal. Anteriormente, em 1933, foi construída a capital goiana, que se tornou a porta para o interior do Brasil.
Passados 83 anos da construção de Goiânia e 54 da transferência da capital, o mapa do povoamento brasileiro mostra que houve, de fato, o deslocamento da mancha populacional para o oeste do país. De fato, as previsões indicam que Goiás atingiu 6.693.500 habitantes e o Distrito Federal, 2.971.500. O IBGE indica, igualmente, que Mato Grosso do Sul atingiu 2.681.983 habitantes e Mato Grosso, 3.303.619. No total, o Centro-Oeste, a segunda área em termos de território, soma menos do que 8% do total populacional, portanto, há ainda largos espaços para a ocupação e povoamento.
Há, todavia, o problema da redução das taxas de crescimento populacional, sendo desprezível a contribuição das imigrações estrangeiras. Por isso, não é de se esperar grande contribuição demográfica para incrementar o povoamento do interior. Com dados do IBGE, de 2003, nota-se que o DF apresentou taxa de 1,98% e Goiás, 2,14%; Mato Grosso e Mato do Grosso do Sul, respectivamente, 1,89% e 1,68%. Evidentemente, essas taxas são todas superiores à média nacional que, nesse mesmo ano, foi de 1,31%. Para 2016, o IBGE estima que o Brasil apresentou declínio na taxa de crescimento – 0,93%. Novamente, os quatro estados do Centro-Oeste apresentam taxas superiores à média do país: DF, 2,14%; Goiás, 1,29%; Mato Grosso, 1,23% e Mato Grosso do Sul, 1,17%. Ao olharmos para o futuro, veremos que, as projeções apontam para padrão de crescimento diverso, que se atenua. Assim, em 2026, o país apresentará a taxa de, apenas, 0,49%. Ninguém pode imaginar queda tão expressiva, pois, em 1950, a taxa de crescimento era de 3,1%, conforme indica Ana Maria Nogales Vasconcelos, estatística da Universidade de Brasília.
A queda das taxas também se apresenta no Centro-Oeste com as seguintes estimativas para 2026: o DF, com 1,33%; Goiás e Mato Grosso, ambos com 0,80% e o Mato Grosso do Sul, com 0,76%. O cenário demográfico acima exposto aponta marcha declinante: a região terá problemas de reposição populacional e, por consequência, lacunas de mão de obra e cérebros para as mais diversas atividades socioeconômicas no futuro. Essa constatação se apoia na desigual distribuição da população pelas faixas etárias. Nesse caso, observou-se para Goiás e DF, o seguinte quadro em 2003: jovens entre 10 e 14 anos eram 27,76% no DF e 28,43% em Goiás; a população em idade ativa (PIA) – de 15 a 64 anos: 68,69% no DF e 66,74%, em Goiás. Os idosos no DF e em Goiás, eram, respectivamente, 3,55% e 4,83%.
Para 2016, há queda da população jovem – entre 10 e 14 anos – representados por 20,86% para o DF e 22,30% para Goiás. A PIA para ambos os Estados, apresenta aumento, chegando, respectivamente, a 72,66% e 70,82%. Igualmente, os idosos incrementaram suas taxas – 6,48% (DF) e 6,88% (Goiás). Isto significa que a população envelhece e pressiona para encontrar oportunidades de trabalho, sinalizando que, frente a crise atual, os 299.000 desempregados de maio de 2016 do DF poderão elevar-se, ultrapassando 300 mil pessoas. Goiás e os Mato Grosso poderão sofrer a mesma crise de desemprego, a menos que tenham incentivos para aquecer as respectivas economias.
CORREIO BRAZILIENSE , 22/07/2016
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