Um universo de pessoas não acessa água em quantidade e qualidade necessárias para se ter uma vida digna. Pensar em como garantir a segurança hídrica em um mundo cada vez mais impactado por mudanças climáticas é o fio condutor do 8º Fórum Mundial da Água, que ocorre até sexta-feira (23) em Brasília, com o tema Compartilhando Água.
Não por acaso, ao Brasil concede-se a honra de ser o primeiro país do Hemisfério Sul a receber uma edição do fórum. O país se creden-cioupordetercercade12%daágua-doce disponível no planeta, dispor de avançada legislação sobre recursos hídricos e reunir setores comprometidos com sustentabilidade no uso da água, bem que se confunde coma própria vida.
A partir da Lei das Águas, o Brasil sacramentou a água como bem de domínio público, limitado, dotado de valor econômico e de múltiplos usos, com prioridade para o consumo humano e a dessedentação de animais, em caso de escassez. A gestão do recurso é participativa, baseada no tripé poder público, usuário e sociedade, atores com assento e voz nos comitês de bacias hidrográficas.
Há muita experiência para se compartilhar globalmente. Brasília apresentará, entre outros, dois saltos civilizatórios recentes: a democratização da orla do Lago Paranoá, com desobstrução de áreas ocupadas irregularmente, e o fechamento do lixão da Estrutural, que era o segundo maior do mundo, uma ferida no coração do país e responsável por colocar em risco lençóis freáticos e a saúde de catadores de materiais recicláveis havia 57 anos.
Localmente, ainda, falará do enfrenta-mento à crise hídrica que impôs racionamento inédito. Entretanto, as intervenções do governo para enfrentar a crise contaram com adesão da população, que reduziu o consumo diário per capita de 147 para 129 litros,em um ano. Pesquisa da CODEPLAN constatou mudanças de atitudes(90% dos entrevistados diminuíram o tempo do banho, e 97% fecham a torneira ao escovar os dentes).
Os volumes dos reservatórios estão subindo. No auge da estiagem, o Descoberto atingiu 5,3% do volume útil, o menor da série histórica,e o de Santa Maria caiu a 22%, efeito de três anos consecutivos de seca e altas temperaturas, somados a um conjunto de problemas antigos, como grilagem de terras públicas, ocupação desordenada do solo, com impermeabilização de áreas, aterramento de nascentes e captação em excesso para irrigação.
Os investimentos em obras hídricas estruturantes, tampouco, acompanharam o crescimento populacional vertiginoso, que transformou Brasília na terceira maior capital com seus 3 milhões de habitantes. O apagão de obras durou 16 anos. No primeiro mês deste governo, ainda sem crise hídrica instalada e em meio a dificuldades financeiras, agimos para recuperar o atraso. As medidas já resultaram em acréscimo de 16,5% na produção de água, o que elevou a capacidade de captação a 11.576 litros por segundo (l/s).
Esse ganho, suficiente para abastecer 880 mil habitantes, foi obtido com a inauguração de duas obras: a Estação de Tratamento de Água do Lago Norte, construída em cinco meses, e o subsistema do Bananal, que, juntas, contribuem com 1,4 mil l/s. Tais obras atenuaram, parcialmente, a pressão sobre o Descoberto ao permitir que o Santa Maria pudesse transferir mais de 400 l/s para Asa Norte, Itapoã, Lago Norte, Paranoá e Taquari, entre outras regiões antes abastecidas por esse reservatório, que agora ganham água do Paranoá.Caminhamos para equacionar o abastecimento de água para os próximos 30 anos com a retomada da construção do Sistema de Corumbá IV, projeto compartilhado com Goiás. Aparte sob responsabilidade de Brasília, orçada em R$ 275 milhões, já está 72% executada e deve ser entregue até dezembro.
Para se ter a dimensão do impacto da obra, basta pensar que o reservatório do Descoberto, que abastece 60% da população, produz 3,2 mil l/s, enquanto Corumbá IV fornecerá 2,8 mil litros por segundo a 1,3 milhão de pessoas.
Rodrigo Rollemberg, governador do DF, in Correio Braziliense, 18/03/2018
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