Júlio Miragaya
Presidente da CODEPLAN e Conselheiro do Conselho Federal de Economia
Em recente viagem a Berlim, pude observar semelhanças e diferenças importantes entre aquela capital e Brasília. Berlim, assim como Brasília, tem status de distrito federal e sua periferia metropolitana, composta de dez cidades, faz parte de outra unidade federativa, o Estado de Brandemburgo, situação similar à de Brasília que tem sua periferia metropolitana composta de 12 municípios de outra unidade federativa, o Estado de Goiás.
Berlim tem população de 3,4 milhões de habitantes e, com as dez cidades, totaliza 5 milhões em toda área metropolitana, um milhão a mais que a Área Metropolitana de Brasília. E lá, como cá, as relações entre centro e periferia são intensas.
As semelhanças, contudo, param por aí. Embora tenha no setor público o principal componente de seu PIB (40%), tal participação fica bem abaixo da verificada em Brasília (55%). Já, a indústria de transformação, se não faz de Berlim um dos principais centros industriais alemães, tem peso no PIB local (12,5%) bem superior ao de Brasília (1,6%). Também o setor de serviços em Berlim tem uma dimensão e complexidade não encontradas em nossa capital, sobretudo, nas áreas cultural e de comunicações.
Berlim ainda não tem uma autoridade metropolitana constituída, mas sua gestão (metropolitana) é feita mediante convênios entre o governo da “Cidade – Estado” e o governo do Estado de Brandemburgo, ou diretamente com as próprias cidades metropolitanas. No setor de transportes, por exemplo, o metrô está circunscrito à cidade, mas háuma ampla malha de trens que liga a capital às dez cidades limítrofes. Sim, todos os cidadãos metropolitanos têm acesso a Berlim por trens rápidos, baratos (para o padrão de renda alemão) e pontuais.
Evidentemente que essa estrutura não foi erigida da noite para o dia, pois Berlim vem se modernizando desde Bismarck, há 150 anos. Mas, vale a lição: nunca é tarde para começar.
Jornal de Brasília,17.04.2014